Ouvi ontem matéria no rádio lamentando que as pessoas não sabem cantar o hino nacional… Lembrei-me então da célebre frase de Johnson: “O patriotismo é o último refúgio de um canalha”. E me perguntei se sou um “patriota”. Não, não sou. Amo o Brasil, gosto de ter nascido aqui. Mas não “daria a vida pela pátria”. Não acho nenhuma falha de caráter alguém não saber cantar o hino nacional. Aliás, em geral, os hinos nacionais são horrorosos. Sobre o nosso, o Carlos Alberto Pessoa já publicou uma crítica feroz e muito bem feita (gostaria de lê-la de novo!). As letras, quase sempre, são bélicas, beligerantes, com exaltações descabidas. Mesmo alguns cuja melodia é linda têm letras de espantar – é o caso do hino francês, de melodia empolgante, mas com uma letra cheia de um ódio inacreditável.
Tenho horror às críticas despropositadas que tantas pessoas (dos mais variados níveis culturais) fazem à Argentina e ao Paraguai, por exemplo. Já estive inúmeras vezes no Paraguai, país que merece tanto respeito quanto qualquer outro e onde encontrei gente fantástica e muitas coisas ótimas e interessantes. Tenho nojo de frases do tipo “ganhar é muito bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor” (ui!). A rivalidade Brasil-Argentina foi historicamente alimentada por interesses europeus contrários as sul-americanos – e tem “papagaios” que não percebem o que está por trás disso.
Fiquei feliz com a atitude do governo Lula de perdoar as dívidas que muitos países pobres tinham com o Brasil. A fome e a pobreza de um africano me doem tanto quanto a de um brasileiro. Sou cidadão brasileiro (e gosto de sê-lo), assim como sou cidadão italiano, mas sou sobretudo cidadão do mundo, parte do gênero humano, e acredito que um sudanês, um suíço e um brasileiro carregam o mesmo peso de serem humanos – esse bicho ao mesmo tempo tão maravilhoso e tão cheio de defeitos.
Minha pátria é o mundo, meus irmãos são todos os seres humanos. Tenho duas nacionalidades, mas gostaria de ter uma só, a planetária. Porque não se pode exaltar uma “pátria” melhor que outra quando o povo de um país sofre para que o de outro goze de boa vida.