Jogou seu último resto de cigarro na rua. Acabara de decidir que seria mesmo o último – e quando ele decidia, estava decidido: seria efetivamente o último cigarro da sua vida.
“Vida”, pensou – “é isto que eu quero.”
Saiu a perambular livremente pelas ruas, apenas absorvendo as sensações que a cidade lhe passava por osmose.
Sentiu no rosto o vento gelado do inverno abaixo de zero. Respirou fundo, colocando nos pulmões as imagens do mundo que o cercava. Sorriu para o mendigo que esperava um café na porta da Tim Hortons. Sentou-se ao lado dele na rua, passou-lhe o derradeiro maço de cigarros ainda pela metade. “Se você gosta, vai lhe fazer bem – e mal a seus pulmões.”
Uma senhora saiu da cafeteria com um grande copo de café quente que entregou ao mendigo, desejou-lhe “Merry Christmas” e sumiu entre as pessoas que desciam para o metrô.
Partilharam o copo até o fim – era agradável sentir o calor do café naquele gélido início de noite. Trocaram poucas palavras, um inesperado afeto e um abraço de despedida.
Começavam a cair os primeiros flocos de neve. Ele postou-se calmamente bem no meio do movimentado cruzamento das avenidas. Dirigiu o olhar para o céu, abriu os braços, fechou os olhos e começou a girar. As buzinas irritadas serviram-lhe de fundo musical. Girou até não conseguir mais. Tonto, tomou a direção que lhe apontava o nariz.
Viu uma belíssima jovem andando pela calçada. “Ei, vamos tomar uma cerveja? Eu pago!” Assustada, ela olhou no fundo dos olhos do rapaz e enxergou a sinceridade dos inocentes. Aceitou o convite.
Foram intensamente felizes até o último badalar dos sinos.