Rescaldo olímpico

Algumas considerações a propósito das Olimpíadas…

1) O desempenho do Brasil na Olimpíada de Pequim, conforme esperado, foi pífio, ridículo. O Brasil está entre os dez maiores países do mundo em termos econômicos, territoriais e de população. Seria de se esperar, portanto, que estivesse entre os dez maiores medalhistas olímpicos. Mas fica longe, muito longe disso.

2) As Olimpíadas são, muito mais que qualquer coisa, um evento político-comercial a anos-luz do chamado “espírito olímpico”, que, afinal, quase não existe. Olimpíadas são a exibição de um chauvinismo exacerbado, com sua exaltação de bandeiras e hinos nacionais e um espírito de competição que muitas vezes parece beirar o belicismo.

3) Ainda sobre o “espírito olímpico”: quem compete hoje “pelo seu país”? Quase todos os atletas que lá estão buscam honra, fama, glória e dinheiro. Prova inconteste disso é a recusa de muitos atletas de ponta em participar dos Jogos, pois já lhes sobram fama e dinheiro. Ademais, há os “nacionais” fajutos, que se “naturalizam” por um país qualquer apenas para poderem competir. A lista deles na Olimpíada de Pequim é grande. Se o Comitê Olímpico Internacional quisesse coibir essa atitude, deveria estabelecer que atletas naturalizados só pudessem participar das Olimpíadas depois de pelo menos cinco anos de naturalização.

4) O esporte de alto rendimento hoje, ao contrário do que a mídia alardeia, é prejudicial à saúde, pois exige do corpo humano que vá além dos limites naturais (daí o uso tão comum de doping). Por isso, é falácia querer associar esse tipo de competição à idéia de saúde.

5) Os competidores sabem que uma medalha olímpica pode representar a redenção financeira. É a “coisificação” do homem, transformado em “máquina de ganhar”. Aos vencedores, tudo (especialmente fama e dinheiro); aos derrotados, vergonha e lágrimas.

6) Todas as críticas que possam ser feitas às Olimpíadas, entretanto, não tiram do esporte em si sua importância. A prática esportiva regular, como entretenimento e – aí sim – elemento de uma vida saudável, é importante. Mais ainda: o esporte, hoje ligado à indústria do entretenimento, é um meio de inclusão e ascensão social. Nesse sentido, o resultado de um país nos Jogos Olímpicos é um índice da importância que ele dá ao esporte.

7) Para o Brasil, mais importante que melhorar o rendimento olímpico, é estabelecer uma política séria de inclusão pelo esporte. Se o esporte for bem utilizado como elemento de inclusão e ascensão social, sobretudo a partir da prática nas escolas (incluindo universidades, “segredo” do sucesso de alguns países nas competições internacionais), um dos reflexos (insisto: dos menos importantes) será uma participação melhor do país nas Olimpíadas.

2 Comentários


  1. Concordo plenamente que esta Olimpíada para o Brasil foi um fracasso! Ainda bem que a maioria dos jogos passava de madrugada, assim não se perdia tempo assistindo-os. O único esporte que vi, e torci, foi a equipe de Bernardinho no vôlei masculino.Esta sim merece os nossos aplausos, mesmo tendo conseguido a medalha de prata, pois é uma equipe que raramente perde. O que me abomina na maioria dos esportistas brasileiros é que, mesmo em 10º, 20º,…lugar, eles acham que nunca foram tão bem, e que está ótima esta colocação. Ou seja, o que vier está bom. Parece que o importante foi conhecer a China.
    Noara

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