Dia desses, vi na TV o filme “O Reino”. Sinopse: uma colônia de trabalhadores americanos na Arábia Saudita sofre um ataque terrorista que mata 100 pessoas, entre elas um agente do FBI. Uma equipe de agentes especiais vai dos EUA até lá para investigar. Descobrem o líder terrorista idealizador do atentado, encontram-no e o matam.
Nada de excepcional. Entretanto, o final do filme chama a atenção e faz com que ele seja diferente de tantos outros parecidos. No início do filme, o chefe dos agentes anuncia a morte dos americanos, entre eles o homem do FBI. Uma mulher (que tinha algum relacionamento especial com o morto) começa a chorar, O chefe da missão se aproxima dela e diz alguma coisa no seu ouvido para consolá-la. Já quase no final, após os americanos atingirem o líder terrorista (que estava num apartamento com sua família), sua neta se aproxima e ele cochicha algo no seu ouvido antes de morrer.
O desfecho do filme alterna duas sequências, uma nos EUA e outra na Arábia. Alguém pergunta ao agente chefe da missão o que ele havia cochichado no ouvido da mulher (lá no início do filme) para consolá-la. Na Arábia, alguém pergunta à neta do terrorista o que ele lhe disse antes de morrer. As respostas são idênticas: “Disse que não se/me preocupasse, porque nós iríamos matar todos os responsáveis por isso”.
Essa é a estupidez da guerra, que a faz interminável. Não interessam as razões do outro lado, o inimigo deve ser destruído – ele é o “errado”, nós somos os “certos”. E isso simplesmente não se discute.
Essa visão maniqueísta perpetua a violência, em todos os níveis. Por isso, achei lamentável aquela manifestação supostamente anti-homofóbica feita na PUCSP que incitava o ódio ao papa e simulava sua decapitação. É sempre ódio contra ódio, não importam as razões. Os que odeiam tornam-se odiáveis. Qualquer diálogo é impossível. E nenhum lado percebe que a incitação do ódio alimenta as “razões” do inimigo. E, assim, a guerra não tem fim.