Não sou um “purista” da língua, nem um “caçador de erros”. Mas acredito que os jornalistas precisam, por dever de ofício, conhecer bem as regras do português formal. E escrever dentro dessas regras, o que indica domínio do idioma pátrio, qualidade essencial para um bom jornalista.
Por isso, não me agrada encontrar “erros” nas matérias jornalísticas, especialmente aqueles que se repetem e os que indicam o empobrecimento da língua. Já comentei aqui a triste morte do “cujo”, pronome que quase não se utiliza mais, embora ele seja insubstituível em determinadas construções textuais.
Tenho reparado também uma confusão reiterada quanto às palavras “sobre” e “sob”: parece que “sob” está sendo sufocado pelo “sobre”, que o vem substituindo irregularmente. É o caso, por exemplo, da frase: “A CBF cobra cerca de R$ 22 por árbitro em cada partida disputada sobre sua tutela.” (Gazeta do Povo, 23 jan. 2011, Esportes, p. 2, coluna “Intervalo”).
Também me incomodam os frequentes deslizes na concordância verbal, como neste exemplo: “Daí, bastou mais cinco minutos para o camisa 9 pegar a bola…” (mesmas edição e página, matéria “Lucas comanda virada em reestréia na Arena”.
Outra confusão comum diz respeito ao uso da vírgula em orações explicativas ou restritivas. Veja-se este caso: “De acordo com o estudante do curso de Gravura, Rodolfo Lucchin, 23 anos, a intenção dos estudantes não era prejudicar a instituição…” (Gazeta do Povo, 23 jan. 2011, Caderno G, p. 1, “Quase abaixo de zero”). Como está, a frase indica que o curso de Gravura tem um único estudante, Rodolfo Lucchin. O correto seria: “…o estudante do curso de Gravura Rodolfo Lucchin, de 23 anos…” (o “de” antes de “23 anos” é outro detalhe: estava faltando, embora essa construção seja comum em jornais de hoje).
Quanto ao emprego do acento grave indicativo de crase, já cansei de comentar. Não entendo qual a dificuldade de tantos jornalistas com essa questão básica da língua portuguesa. Crase é o encontro de dois “as”, e pronto – o que foge disso é exceção e raridade. Como podem fazer tanta confusão? É só bater o olho numa página de jornal para encontrar os frequentes erros de crase – como fiz agora, vendo a expressão “à reboque” (sic) numa página da Gazeta do Povo (22 jan. 2011, Vida e Cidadania, p. 10, Box “Saiba mais” da matéria “Um novo olhar sobre a Idade Média” – matéria, aliás, que merecerá comentário em outro post).
Se há ou não deficiência no ensino e/ou no aprendizado da língua portuguesa, não importa: os jornais deveriam estar atentos ao correto uso do idioma escrito e alertar e corrigir seus jornalistas para que deslizes desse tipo tornem-se cada vez mais raros.
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pois é, meu caro, você tem total razão… Quanto a gente repudiava as aulas de "oração subordinada substantiva", "oração coordenada adversativa" e outras, mas que depois mostraram sua importância no bem escrever!
Contudo, não se entristeça apenas pelos jornalistas, que na escrita jurídica também se acha muitos desses erros que você menciona.
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Ah, ah! É verdade! Tem advogados que acham que é bonito escrever “difícil” – então, tentam, e sai cada coisa que não tem nada a ver com a língua portuguesa!