A INFALIBILIDADE DA BÍBLIA – QUE BÍBLIA?
Diferentes denominações religiosas atribuem à Bíblia um valor infalível. Consideram suas palavras como verdades absolutas. Diante dessa realidade, sempre me vêm algumas perguntas….
1) De que Bíblia cada denominação está falando? Sim, porque a Bíblia como geralmente a conhecemos hoje é a compilação de vários escritos, de diferentes épocas e autores, que foram escolhidos por alguém (da Igreja) que lhes atestou o valor de palavra divina. Muitos escritos parecidos foram considerados apócrifos, heréticos, rejeitáveis. A definição hoje mais universalmente aceita dos livros que constituem a Bíblia foi feita pela Igreja Católica.
2) De que tradução se está falando? Sim, pois os vários livros da Bíblia foram escritos em línguas diferentes e antigas (grego, hebraico, aramaico). São escritos milenares, que exigem altíssima expertise para seu entendimento e tradução. Há traduções clássicas que vêm sendo reproduzidas há séculos. E os originais da Bíblia não são conhecidos. Há apenas cópias de cópias. A mais célebre das traduções antigas foi a dos 70 sábios. Depois, a de São Jerônimo para o latim (a “Vulgata”), ordenada pela Igreja Católica e que se tornou a base para a maior parte das traduções que se seguiram.
3) E qual a interpretação? A Igreja Católica considera-se a depositária da Bíblia, por mandado divino, e iluminada pelo Espírito Santo para a interpretação das escrituras. Ideia combatida por Lutero, que pregou o princípio da livre interpretação, do qual, consequentemente, surgiram as interpretações mais díspares possíveis.
Então, quando se fala da Bíblia, é de se pensar no longo e tortuoso caminho percorrido até que alguém no Brasil leia a tradução que tem em mãos (fidedigna? confiável? tecnicamente correta?) e interprete o que leu segundo suas próprias “luzes”. Ou trevas… Pode dar em interpretações muito difundidas, como: “os judeus são um povo amaldiçoado por terem matado Jesus Cristo, que amaldiçoou todos os judeus e seus descendentes”; “os africanos são descendentes de um filho amaldiçoado por Noé”. E por aí vai…
Quando ouço alguém falar uma “verdade absoluta” em nome da Bíblia, tenho vontade de perguntar: De que Bíblia você está falando? E por que você acha que essa da qual você está falando é a “legítima”?
A VERDADE DA BÍBLIA NA VISÃO CATÓLICA
Eis a resposta católica à questão.
Deus se dá a revelar ao mundo. Sua vontade é revelada aos homens pelos profetas, que são instrumentos divinos no cumprimento dessa missão. Profeta é aquele que aponta o caminho a ser seguido. A vontade divina em relação aos homens foi manifestada por profetas e outros homens inspirados por Deus, alguns dos quais deixaram consignada por escrito Sua mensagem à humanidade.
Para pagar a dívida do pecado original cometido pelo homem, o próprio Deus encarnou-se, tornando-se a um tempo homem e Deus na figura de Jesus Cristo para assim, com seu sacrifício de valor infinito (já que foi o sacrifício de um Deus), resgatar a dívida da humanidade (uma vez que foi também o sacrifício de um homem).
Cristo ressuscitado fundou uma igreja, dando a Pedro a direção dela: “Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus”.
Essa igreja por ele fundada tem Seu mandado para difundir e interpretar a mensagem divina, com a garantia da assistência perpétua do Espírito Santo, prometida pelo próprio Cristo. Assim, cabe à Igreja identificar quais os escritos aos quais se pode legitimamente atribuir a inspiração divina de modo a serem considerados mensagem de Deus para os homens. Daí a legitimidade da Igreja para determinar quais livros constituem a Sagrada Escritura. E também para proclamar-se a única intérprete autêntica da Bíblia, evitando a livre interpretação, que leva necessariamente à confusão e à divergência.
Portanto, na visão católica tradicional, a Igreja Católica é a única que pode legitimamente: identificar e indicar quais livros compõem a Sagrada Escritura; interpretar a mensagem contida na Bíblia; aprovar as traduções feitas para as diferentes línguas. Assim, preserva-se a autenticidade da mensagem divina contida nos livros sagrados.
Esse mandado divino dado à Igreja mantem-se na autêntica sucessão apostólica: o papa é o sucessor direto e legítimo de Pedro, assim como os bispos são sucessores dos apóstolos, por transmissão direta e contínua (há séculos manifestada visivelmente na sagração episcopal e na eleição do pontífice).
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Independentemente de se concordar ou não com a visão católica, ela tem coerência interna. Isto posto, se algum católico ou conhecedor da doutrina católica quiser fazer algum reparo, por favor, faça-o.