A “puta” e os “filhos da puta”

Estou indignado com o fato ocorrido na Uniban – universidade paulista onde uma aluna (Geisy Villa Nova Arruda) foi humilhada por estar supostamente vestida de modo inadequado. Vi no Youtube o chocante vídeo do alunos gritando “puta! puta!” quando a aluna saía escoltada por policiais.

Tentei escrever um artigo sobre o tema, mas o sangue me sobe à cabeça. Sou professor universitário há 11 anos e já vi muitas alunas vestidas igual à aluna da Uniban, ou mesmo com roupas menores e mais insinuantes. E elas nunca foram tratadas como a aluna da Uniban.

Pergunto-me o que levaram os estudantes daquela universidade a agirem do modo como agiram. Será aquela universidade um reduto de evangélicos radicais? De seguidores do taleban? De muçulmanos fundamentalistas? De fanáticos católicos medievalistas?

Será que os jovens da Uniban não fazem parte do universo de alunos de instituições particulares com os quais convivo há mais de dez anos? Gente que inicia sua vida sexual em torno dos 15 anos, que costuma “ficar” nas “baladas”, que tem uma liberdade sexual impensável há poucas décadas?

Vejo muitos jovens na praia, admirando belos corpos de mulheres seminuas, ao lado de suas irmãs e até mães, também elas com muito menos roupa do que a aluna rechaçada. Mas lá a hipocrisia social admite tais trajes como normais. Para mim, são tão normais quanto o são o vestido da aluna da Uniban.

Nada justifica a atitude dos alunos da Uniban. Nada. A não ser uma exacerbada hipocrisia social. Sinto-me enojado até em ter que discutir o tema. E mais indignado ainda fico ao saber que a direção da instituição resolveu expulsar a aluna! Espero que a estudante humilhada entre na Justiça contra a universidade e consiga um gorda indenização.

Tenho vontade de chamar os alunos da Unibam que humilharam a estudante de “filhos da puta”, mesmo qualificativo que gostaria de dirigir à direção da instituição. Mas não o faço, primeiro, porque as putas também têm sua dignidade, como todos os seres humanos, e merecem respeito. Em segundo lugar, porque as mães não podem pagar pelos pecados dos filhos.

O que mais me espanta é a terrível possibilidade que se pode vislumbrar a partir de um fato como esse: será que corremos o risco de caminhar para uma sociedade repressora dirigida por fanáticos, como acontece hoje em vários países do Oriente? Será que o Brasil pode tornar-se uma república fudamentalista por obra e (des)graça de grupos religiosos e/ou moralistas fanáticos?

3 Comentários


  1. Quando me contaram sobre o fato da saia curta, fiquei imaginando que seria só uma tirinha de pano mas, ao ver pela TV, verifiquei que o comprimento da saia era o mesmo usado em todo lugar quando está calor. Nada de mais (ou de menos)! Acredito até que alguns dos alunos que a recriminaram, se entrevistados, agora estarão "dando a maior força" para a moça. Hipócritas!
    O pior foi ver a reportagem na TV, revoltada com o reitor da Uniban e, no mesmo dia, mostrar matéria sobre sandálias masculinas: mesmo no verão há restrições para o seu uso.
    Noara

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  2. Pensei em uma grande jogada de marketing, mesmo sabendo que vivemos numa nossa sociedade hipócrita.
    Daqui a alguns dias a estudante estará estampando alguma Playboy. Brasillllll!!!

    Um abraço.

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  3. Interessante o ponto sobre mulheres seminuas na praia.
    Já observei isso também (nesse caso a questão) e existe uma hiprocrisia enorme em cada um de nós.

    Na praia, "pódi!". Em outros lugares "não pódi!". Ao meu ver é tudo calcinha e sutiã ou tudo biquíni.

    Enfim, "quem vai entender…?"

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