Um ministro na Reitoria

 

Poucas universidades brasileiras podem se orgulhar de ter um reitor com um currículo como o de Euro Brandão. O professor que, hoje, dirige a PUC-PR, já comandou a educação do País todo, como ministro da Educação e Cultura, entre abril de 1978 e março de 1979. Foi também secretário geral do MEC, de 1974 a 1978, secretário Estadual de Transportes (1973-74) e presidente do Banco de Desenvolvimento do Paraná (1979-83). Graduado em Engenharia Civil e em Filosofia, Euro Brandão foi personagem sempre presente no cenário educacional paranaense das últimas décadas. Com formação em campos diferentes como ciências exatas e humanas, é, ademais, artista plástico premiado – homem cujo vasto horizonte cultural garante visão ampla das questões da educação e da cultura. Há dez anos está à frente da Reitoria da PUC-PR. Nesta entrevista, Euro Brandão fala da Universidade que dirige e deixa uma mensagem aos candidatos ao vestibular 97 da PUC-PR

Qual a diferença entre uma universidade católica e uma universidade laica?

Substancialmente, está no objetivo pedagógico. Uma universidade católica se preocupa extremamente com a formação científica e profissional, mas valoriza igualmente a formação humana. De nada servem a ciência e a tecnologia, se não vieram em proveito do homem. Por isso, a PUC-PR inclui nos currículos de seus cursos disciplinas que levam ao transcendente (como a Teologia) e que levam a uma visão de mundo (como Filosofia e Cultura e Cidadania), e ainda a Ética, que é proposta em todos os cursos. Estamos convencidos de que a formação integral, além da aptidão profissional necessária, deve contar com formação familiar, cívica, religiosa e física (esta, no que tange à prática do desenvolvimento do corpo humano). Por isso, a PUC-PR é também um centro de irradiação cultural, contando com muitas atividades extra-curriculares – artísticas, históricas, filosóficas, esportivas –, por meio do Círculo de Estudos Bandeirantes, de sua Divisão de Cultura, dos pontos de encontro musicais, corais, teatro – enfim, inúmeras atividades para as quais os universitários são freqüentemente convidados

Para uma universidade, é importante a ligação com a comunidade. Como a PUC-PR cumpre esse papel?

A PUC-PR tem consciência da necessidade de um relacionamento muito intenso com a sociedade que a cerca. Para isso, as atividades de entrosamento com empresas, instituições e outros órgãos de cultura são essenciais na formação do aluno. Assim, mantemos inúmeros convênios com empresas dos mais variados setores, através do Projeto Tecnópolis (que engloba o conjunto de todas as atividades com as empresas: programas de computador, protótipos industriais, compostamento de lixo etc.). Além disso, a PUC-PR mantém convênios em áreas específicas, como os convênios com empresas de comunicação, que recebem como estagiários-observadores estudantes de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. No curso de Direito, existe a atuação do escritório modelo, que atende famílias carentes e presidiários. No setor de Odontologia, está muito desenvolvido o apoio ao tratamento bucal, oferecido à comunidade. Na Medicina, um convênio com a prefeitura de Curitiba permite extenso campo de treinamento em traumatologia. Os institutos de Fisioterapia e Fonoaudiologia empregam estagiários, atendendo famílias com poucos recursos econômicos. A PUC mantém ainda mais de 30 convênios com universidades do país e do exterior – todos os anos, seguem grupos de alunos nossos para os Estados Unidos, Espanha, Japão, China, Argentina, França.

Quem visita os campi da PUC-PR percebe que estão sempre em obras de reforma ou ampliação. O que a universidade tem feito e planeja fazer para ampliar a oferta de cursos?

Na última década, a PUC tem se preparado para criar novos cursos exigidos pelo progresso social e tecnológico do País, destacando-se a oferta do ensino da Informática, no que é das instituições de maior relevo no ramo universitário. Criou ainda cursos de Telecomunicações e Engenharia de Alimentos, altamente inovadores, ao lado de cursos tradicionais (como Zootecnia, Farmácia, Agronomia, Veterinária, Economia). Cogita-se para um futuro próximo a instituição dos cursos de Engenharia Ambiental e Engenharia Biomédica.

A ampliação do campus de Curitiba e a criação do campus de São José dos Pinhais, com a criação de novos cursos, têm exigido a construção permanente de novos laboratórios e ampliação dos pavilhões acadêmicos, numa série de obras que permitem um constante crescimento das atividades universitárias. Os recursos para essas obras, convém frisar, não provém das mensalidades pagas pelos alunos, mas dos serviços prestados pela PUC-PR aos vários segmentos produtivos.

Falando em mensalidades, o Sr. poderia comentar os sistemas de bolsas oferecidos pela universidade aos alunos?

A PUC mantém um programa de bolsas rotativas que atende, a partir do segundo ano, alunos com impossibilidade de prosseguir por motivos financeiros. O aluno, após formado, e vencido o prazo de carência de um ano, faz retornarem à universidade, em favor de novos beneficiários, as mensalidades que não puderam ser cumpridas ao longo do curso. A PUC-PR participa também do programa de Crédito Educativo do governo federal e oferece bolsas parciais a alunos que participam de atividades extra-curriculares, como os corais e o grupo de teatro. Temos ainda as bolsas-estágio e a possibilidade de o aluno participar de projetos remunerados diretamente pelas indústrias que mantêm convênio com a universidade.

Gostaríamos que o Sr. deixasse uma mensagem àqueles que vão tentar o ingresso na PUC-PR.

Os candidatos que ingressam na universidade enfrentam certamente um período de intensa preparação intelectual. Mas o estudo na universidade é totalmente diferente do sistema de estudo nas fases anteriores. Agora, é o aluno que vai assumir sua própria formação. É aprendendo a aprender que o aluno vai enriquecer seu conhecimento técnico-científico. No estudo superior, é preciso ter amizade com os livros, freqüentando a biblioteca, o que leva à reflexão individualizada sobre os assuntos que lhe são propostos. Para aqueles que não conseguirem classificação neste vestibular, quero lembrar que não há reprovação no vestibular: há classificação. E quem não a alcança não deve se considerar um aluno reprovado, pois aprovados todos já estão ao terminarem o segundo grau. O que existe é uma restrição do número de vagas com relação aos anseios de nossa mocidade, o que exige o processo classificatório.

[26/06/1996]

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